Santiago, Terra de Badius e Memórias Vivas

 Na alma do arquipélago de Cabo Verde, repousa Santiago, a maior e mais vibrante das ilhas, coração do grupo do Sotavento. Estendida entre o norte e o sul como uma estrada de histórias, com 54,9 km de comprimento e 35 km de largura, ela se ergue como um continente em miniatura, guardando em cada vale, em cada encosta, a memória de um povo resistente, moldado pelo tempo, pela seca e pelo sonho.

É em Santiago que pulsa a cidade da Praia, capital do país e espelho de sua modernidade. Uma cidade que cresceu sem perder o sopro das origens, onde as ruas do Plateau ainda guardam o eco das primeiras construções, e onde o Mercado Municipal e a Feira da Sucupira traduzem o espírito do encontro, do negócio, da cor e da palavra viva. 

Mas Santiago é muito mais que a Praia. É também São Domingos, entre vales verdes e memória antiga. É Assomada, com seu mercado animado e o Museu da Tabanka, onde a festa e a resistência ganham espaço sagrado. É Tarrafal, lá no norte, com suas praias de areia clara e a sombra longa do antigo Campo de Concentração, símbolo do silêncio forçado, hoje transformado em lugar de memória e reflexão. 

Ribeira Grande de Santiago, que já foi chamada Cidade Velha, foi o ponto de partida, a primeira capital, o solo onde as primeiras pedras da cabo-verdianidade foram lançadas. A apenas 15 km da Praia, ainda hoje conta histórias de navegadores, escravizados, missionários e comerciantes. Ali, entre ruínas e murmúrios, nasceu a ideia de uma nação mestiça, feita de dor e criação, de cruzamentos improváveis que deram à luz uma cultura singular.

E onde há cultura, há língua. Em Santiago fala-se o crioulo badiu, cheio de ditos e provérbios que espelham a alma do povo. Não é só idioma, é identidade. Ser badiu é ser Santiago, é ser raiz.

Entre o Farol de Maria Pia, a Cruz de Papa, o Monumento a Diogo Gomes, a Igreja de Nossa Senhora da Graça, e tantos outros espaços sagrados ou profanos, a ilha desenha seu mapa não só com geografia, mas com sentimento. É terra onde a cultura não está apenas nos livros, mas na fala do povo, no batuque que se ouve ao longe, na comida feita com afeto, no olhar de quem resiste.

Santiago é ilha, é mundo, é lar. Um lugar onde o tempo anda devagar para que a história possa ser contada com calma, em crioulo, com sabor a milho, café, suor e mar.

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