Tabanca: o tambor que resiste no tempo


Há sons que não se calam. Há passos que mesmo fora do compasso ainda sabem dançar. E há tradições que, mesmo varridas pela poeira do tempo, resistem — firmes, coloridas e teimosamente vivas. A Tabanca é uma dessas tradições.

Quem já viu um cortejo de Tabanca a descer pelas ruas sabe do que falo. Não é só música, nem apenas dança. É uma afirmação. Um grito de identidade. Um reencontro com os antepassados, com a terra, com a raiz. Os tambores batem e é como se o chão ganhasse vida própria. Os corpos, quase em transe, seguem o ritmo ancestral, entre o sagrado e o profano.

A Tabanca nasceu do povo, e é do povo que ela se alimenta. Surgiu num tempo em que os homens precisavam de formas próprias de expressão — longe dos salões coloniais, longe dos livros que não liam, mas perto dos seus próprios corações. Era nas tabancas, esses agrupamentos comunitários, que se partilhava o pouco, se cantava o muito, e se celebrava o que se é: caboverdiano.

E, no entanto, quantas vezes tentaram calá-la? Disseram que era barulho, que era atraso, que era coisa de gente sem futuro. Mas a Tabanca, como todas as manifestações que nascem da alma, não morreu. Recolheu-se, sim. Feriu-se. Mas ficou à espreita, à espera do tempo certo para regressar.

E regressou.

Hoje, entre a memória e a modernidade, a Tabanca ainda caminha. Veste-se de cores, empunha bandeiras, entoa ladainhas e percorre aldeias como Assomada, Achada Falcão ou Chã de Tanque. Vai com fé, com garra e com dignidade. Vai porque ainda há quem acredite que o tambor também é uma forma de falar com Deus.

Os mais velhos ensinam os mais novos, e os mais novos — mesmo entre os fones de ouvido e os vídeos no telemóvel — começam a perceber que há uma força ali. Uma história. Uma herança que é preciso cuidar.

A Tabanca não é só folclore. É resistência. É memória coletiva. É um coração que bate do lado esquerdo da história.

E enquanto houver alguém que bata palmas ao som do tambor, que enfeite o peito com fitas e flores, que cante as dores e as alegrias do povo — a Tabanca estará viva. E nós também.

Saber mais Tabanka ASA 

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