O Batuku


Em algumas comunidades de Santiago, ainda se ouvem os sons do batuku. Não como um som distante, mas como uma presença viva que atravessa gerações. À sombra de árvores antigas, em pátios de terra batida ou nos palcos das festas populares, o batuku resiste. E quem escuta com atenção, percebe que ali não há apenas música , há história, força e identidade.

O batuku é mais do que um género musical. É um modo de estar, uma forma de dizer o que não se dizia, de enfrentar o que não se podia enfrentar, principalmente para as mulheres negras que, durante séculos, tiveram pouco espaço para a palavra. Sentadas em roda, elas batiam palmas nas pernas ou em panos dobrados e deixavam que o corpo, o canto e o ritmo falassem por elas. O som que nascia dessas palmas era o batuku — bruto, sincero e profundo.




Proibido durante o período colonial, acusado de ser “atrasado” e “africano demais”, o batuque quase desapareceu. Mas como todas as expressões nascidas da alma, não morreu. Recolheu-se. Sobreviveu nos quintais, nas zonas mais esquecidas, nas vozes das mulheres mais teimosas — aquelas que sabiam que o batuque era muito mais do que barulho. Era memória.

Hoje, o batuku reaparece com uma nova força. Já não se limita aos lugares de sempre. Sobe aos grandes palcos, entra nas escolas, viaja em álbuns e videoclipes. Artistas como Grupo Flor de SperançaElida Almeida, Freirianas Guerreiras e entre outros nomes transformaram o batuku em arte contemporânea, sem apagar o seu passado. E nas comunidades de origem, o orgulho volta a crescer.

Apesar dos riscos, o batuque ainda pulsa onde sempre pulsou: no coração de um povo que resiste com ritmo e alma. E enquanto houver uma roda, uma palma e uma voz que cante com verdade, o batuque não vai calar. Porque o batuque nunca foi apenas som. Foi — e continua a ser — uma forma de existir.

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