Tabanka: muito mais do que uma festa, uma identidade cultural caboverdiana

 

A Tabanka é uma das manifestações culturais mais emblemáticas de Cabo Verde, com raízes profundas na história, na resistência e na espiritualidade do povo caboverdiano. Muito além de uma simples celebração popular, a Tabanka é um símbolo de identidade, solidariedade comunitária e preservação de tradições ancestrais.

Originária dos tempos coloniais, acredita-se que a Tabanka surgiu como uma forma de resistência cultural dos africanos escravizados, que encontraram na música, na dança, nas cores e nos rituais uma maneira de manter viva a sua herança e, ao mesmo tempo, construir novas formas de expressão em terras cabo-verdianas.

Tradicionalmente celebrada entre os meses de maio e junho, especialmente nas ilhas de Santiago, Maio e Brava, a Tabanka é marcada por desfiles vibrantes, com figurantes envergando roupas coloridas, máscaras e instrumentos tradicionais, como tambores e apitos. O som da batida da Tabanka é inconfundível e convida à participação coletiva, ao mesmo tempo em que reforça o sentimento de pertença.

Um dos momentos centrais da Tabanka é o chamado “recolhimento da bandeira”, uma cerimónia que simboliza o espírito de união e proteção da comunidade. Há também elementos religiosos, misturando o catolicismo com práticas tradicionais africanas, o que dá à festa um caráter único de sincretismo cultural.

Com o tempo, a Tabanka enfrentou períodos de proibição e esquecimento, principalmente durante a era colonial e nos primeiros anos pós-independência, quando era considerada uma prática ligada ao passado rural e pouco valorizada. No entanto, nos últimos anos, têm-se multiplicado os esforços de valorização e revitalização dessa expressão, através de associações culturais, escolas de música tradicional e políticas públicas de salvaguarda do património imaterial.

Mais do que um espetáculo, a Tabanka é um modo de viver, de partilhar e de lembrar quem somos. Ao som dos tambores, ao ritmo dos passos, perpetua-se uma história que resiste, renasce e se reinventa de geração em geração.